A Castanha-da-Amazônia: muito mais que um alimento e uma fonte de renda do povo Mēbêngôkre

Desde tempos imemoriais, o povo Mẽbêngôkre - Kayapó tem se dedicado à coleta da castanha-da-amazônia, uma prática ancestral que, além de representar uma importante fonte de alimento e renda, contribui para a proteção dos territórios Kayapó e para a transmissão de práticas e conhecimentos tradicionais, gerando impactos que vão muito além dos limites desses territórios.


A CASTANHA DO POVO KAYAPÓ 



A castanha-da-Amazônia, também conhecida como castanha do Pará, ou, no exterior, como castanha-do-Brasil, é uma espécie amplamente distribuída na Bacia Amazônica, ocorrendo desde o sudeste da Amazônia brasileira, região dos territórios do povo Mẽbêngôkre – Kayapó, até a Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela e Guianas. 


A castanheira é uma das maiores e mais longevas árvores da floresta, alcançando quase 50 metros de altura e mais de 5 metros de diâmetro. Segundo os anciões Mẽbêngôkre, foi o guerreiro mítico Takakà que transformou uma arara em castanheira, enquanto coletava castanha de sapucaia com seu cunhado Ooirop. Estudos indicam que a distribuição atual da castanha-da-Amazônia é resultado do manejo secular dessa espécie por diversas populações indígenas que, através do uso e transporte de suas sementes, aceleraram seu processo natural de dispersão por outros animais, como a cotia, o principal predador e dispersor atual das sementes da castanheira (vide capitulo 1 do Volume 3 - Ecologia e manejo de castanhais nativos - do livro Castanha-da-Amazônia: estudos sobre a espécie e sua cadeia de valor: https://www.embrapa.br/rondonia/livr

o-castanha-da-amazonia

).

 

Para o povo Kayapó a castanha é uma importante fonte de alimento que, nas últimas décadas, também se tornou uma forma efetiva de acesso aos produtos do mundo kuben (não indígena) que passaram a consumir ao longo do processo de contato com a sociedade não indígena. O manejo da castanha praticado pelas famílias Kayapó contribui para a conservação de mais de 9 milhões de hectares de florestas dessa ameaçada região da Amazônia brasileira, protegendo uma rica biodiversidade e garantindo a continuidade de serviços ambientais fundamentais para a manutenção de clima da região, assim como de outras regiões do Brasil.  


A coleta da castanha-da-Amazônia envolve a maioria das aldeias e comunidades Kayapó

 durante o período de chuvas, geralmente de dezembro a março. Nos castanhais, após a quebra dos ouriços, frutos da castanheira em forma globular e casca com estrutura extremamente rígida, os coletores Kayapó transportam suas produções de sementes de castanha in natura em sacos ou paneiros (cestos) com o auxílio de alças apoiadas na cabeça até a beira do rio ou de uma estrada, de onde a produção é escoada por via fluvial e/ou rodoviária até chegar a um galpão de armazenagem (

https://www.youtube.com/watch?v=hc7KvsI0QjU&t=13s). 



Além de seu impacto econômico, a coleta da casta

nha também desempenha um papel crucial na proteção territorial, uma vez que os castanhais estão dispersos por vastas áreas do território indígena, o que estimula a circulação dentro da Terra Indígena, inibindo a prática de atividades ilegais e predatórias por terceiros. A longa permanência das famílias nos acampamentos de coleta proporciona uma oportunidade única para a transmissão de práticas e conhecimentos tradicionais dos mais velhos para as gerações mais jovens, contribuindo significativamente para o fortalecimento da cultura e do modo de vida indígena.



NOVAS ESTRATÉGIAS PARA AMPLIAR IMPACTOS 



Com o objetivo de fortalecer a cadeia da castanha em seus territórios, as organizações criadas e dirigidas pelos Kayapó, Associação Floresta Protegida (AFP) e Instituto Kabu (KABU) se uniram em uma estratégia articulada de acesso a mercados diferenciados através da BaY Cooperativa Kayapó de Produtos da Floresta (COOBAY). Com esse novo arranjo a COOBAY passou a agregar cerca de 600 famílias de 50 aldeias Kayapó (4000 indígenas) localizadas nas Terras Indígenas Kayapó, Baú e Menkragnoti, no sul do estado do Pará e norte do estado do Mato Grosso, ampliando a capacidade produtiva anual de castanha in natura para 100-300 toneladas ou 30-100 toneladas de castanha beneficiada.


A COOBAY conta com quatro galpões de médio porte para armazenagem de castanha, localizados dentro dos territórios Kayapo, e dois galpões de grande porte localizados fora dos territórios. Seu principal objetivo é remunerar de forma justa os coletores Kayapó, buscando praticar valores acima dos preços de mercado praticados na região. 


A COOBAY comercializa castanha, no atacado e no varejo, tanto in natura (com casca), quanto beneficiada (descascada) em sacarias de 20kg à vácuo, acondicionadas em caixas de papelão (38 X 57 X 15cm), assim como em embalagens de 150g com marca (PI’Y) e identidade visual próprias (Figura 1) para venda direta ao consumidor final. 



Figura 1. Embalagem de castanha-da-amazônia PI’Y de 150g.


No primeiro semestre de 2023 a COOBAY realizou um piloto de exportação direta à Inglaterra, processo que contou com o apoio financeiro e operacional de quatro organizações inglesas - The Roddick Foundation, Full Circle Foundation, Landworkers Alliance - e assessoria técnica da organização sem fins lucrativos Conexsus - Instituto Conexões Sustentáveis, que apoiou a COOBAY ao longo de todos os trâmites da exportação e está apoiando sua adesão à World Fair Trade Organization (Organização Mundial de Comércio Justo), com o objetivo de ampliar os canais de comercialização fora do Brasil junto às redes de comércio justo. 


Em 2023 a COOBAY também lançou, em parceria com a empresa de chocolate Odle, um chocolate produzido com a castanha dos territórios Kayapó (figura 2), com o objetivo de diversificar seus produtos e contribuir para ampliar o capital de giro necessário para poder ganhar escala de produção.



Figura 2. Chocolate com castanha-da-amazônia da COOBAY.


REDE ORIGENS BRASIL



Os Kayapó cooperados à COOBAY e associadas à AFP e ao Kabu fazem parte da rede Origens Brasil, uma rede que promove negócios sustentáveis na Amazônia em áreas prioritárias para conservação, com garantia de origem, transparência, rastreabilidade da cadeia produtiva e promovendo o comércio ético (https://www.origensbrasil.org.br/produto.php?qrcode=

5010

)

 

SAIBA MAIS


 

Saiba mais sobre a cultura, a castanha-da-Amazônia, e outros produtos Mẽbêngôkre Kayapó nos links a seguir: 


www.coobay.com


www.lojakayapo.com


www.florestaprotegida.org.br


www.kabu.org.br