Ecoturismo Internacional Promove Intercâmbio Cultural e Aprendizado Experiencial com os Mēbêngôkre na Amazônia

Em uma das regiões mais contestadas da Amazônia, um grupo diverso de brasileiros, estrangeiros e membros da comunidade Mēbêngôkre se reuniu para participar do programa de Ecoturismo Intercultural. Com o objetivo de promover o intercâmbio intercultural e o aprendizado experiencial, a atividade ofereceu aos participantes uma oportunidade única de imersão nas realidades dos Mēbêngôkre, explorando a vasta biodiversidade da Amazônia e as questões socioculturais que envolvem o território.



::: Uma Jornada de Aprendizado e Respeito Mútuo :::


Durante 11 dias, entre os dias 31 de julho a 13 de agosto, o programa reuniu 30 participantes Mēbêngôkre, divididos em três grupos de 10 pessoas, representando nove aldeias (Pykararakre, Kawatire, Kakore, Kruwanhongo, Kruwakrô, Rikaró, Kamure, Kokotkrere e Kri-nhô-êre. Eles trabalharam ao lado de visitantes estrangeiros e brasileiros, liderados por uma equipe interdisciplinar de facilitadores indígenas, brasileiros e norte-americanos. Entre os participantes internacionais estava o instrutor de educação internacional Matthew Aruch, Scott Hecker, Natalie Knowles, Sophia Polson, Felton Jenkins, Veronika Leitold e a diretora do Kayapó Project Bárbara Zimmerman (CAN). Do lado brasileiro, a equipe incluiuo professor de zoologia da UFPA Juarez Pezzuti, e os pós-graduandos Cristiney Santos e Nathalia Almeida.



Localizado no "arco do desmatamento", o território do povo Mēbêngôkre abrange uma das maiores áreas contínuas de floresta tropical da Amazônia Oriental e do mundo. O programa levou os participantes ao Rio Xingu da TI Kayapó, onde passaram quase duas semanas imersos na vida da aldeia Kamoktdijam, na Pousada Xingu, que também funciona durante os meses de setembro como um projeto de etnoturismo e pesca esportiva. Durante a estadia, os visitantes aprenderam sobre a ecologia da floresta amazônica, visitaram áreas de cerrado, barreiros e castanhais, vivenciaram atividades culturais tradicionais como pintura corporal com grafismo, confecção de miçangas, coleta de castanha-do-brasil e visitas às roças tradicionais.


::: Exploração da Floresta: Caminhadas, Observação e Fotografia de Animais :::


Uma das atividades mais aguardadas do programa foi a série de caminhadas na mata, guiadas pelos próprios Mēbêngôkre. Essas expedições permitiram aos participantes uma imersão total na biodiversidade da floresta amazônica. Durante as caminhadas, os visitantes tiveram a oportunidade de observar e fotografar uma grande variedade de fauna, incluindo aves raras, mamíferos e insetos. A observação da vida selvagem foi acompanhada de explicações dos Mēbêngôkre sobre a importância ecológica de cada espécie e sua relação com a cultura e o modo de vida da comunidade.



As caminhadas também levaram os participantes a locais sagrados e de importância cultural para os Mēbêngôkre, onde foram contadas histórias e mitos relacionados às florestas e aos animais. Este intercâmbio de conhecimentos, combinado com a experiência prática de estar na mata, proporcionou aos visitantes uma compreensão mais profunda do ambiente amazônico e da cosmovisão Mēbêngôkre.


Além da observação de animais, os participantes aprenderam a utilizar câmeras, câmera traps e drones para monitorar a fauna e o território, uma prática que os Mēbêngôkre adotaram como parte de suas estratégias de conservação. Essa troca de tecnologias e métodos de monitoramento foi enriquecedora para ambos os lados, fortalecendo a colaboração entre os Mēbêngôkre e seus parceiros internacionais.



::: Objetivos Atingidos e Impactos Duradouros :::


Os objetivos do programa foram plenamente alcançados. Os participantes puderam compreender profundamente a relação intrínseca entre a cultura Mēbêngôkre e o território que eles protegem. Além das atividades práticas, a interação direta com as comunidades indígenas proporcionou um entendimento mais profundo das lutas e desafios enfrentados pelos Mēbêngôkre na defesa de suas terras contra ameaças como mineração, extração de madeira e agricultura predatória.

Um destaque inesperado deste ano foi a presença de fotógrafos e cineastas que capturaram imagens marcantes das atividades e da vida na floresta, criando um registro visual que celebra a cultura e a resistência Mēbêngôkre.



::: Desafios e Aprendizados :::


Como em anos anteriores, recrutar participantes internacionais dispostos a enfrentar a jornada até as terras Mēbêngôkre foi um desafio, mas, uma vez comprometidos, os participantes descreveram a experiência como transformadora. As barreiras linguísticas e culturais surgiram ocasionalmente, mas a abertura e a atitude positiva permitiram que todos se conectassem de maneiras significativas.

O programa tem sido fundamental para a criação de aliados de longo prazo para o Kayapó Project, fortalecendo a rede de apoio à proteção da cultura e das terras indígenas. Além disso, oferece uma das poucas oportunidades para os Mēbêngôkre interagirem com visitantes que compartilham o mesmo compromisso de preservar sua cultura e território.



::: O Kayapó Project: Uma Aliança para a Preservação e Autonomia Indígena :::


O Kayapó Project é um programa emblemático do International Conservation Fund of Canada (ICFC). O ICFC e o parceiro nos EUA, o EDF, fornecem infraestrutura de vigilância e serviços administrativos para as organizações de base representativas do povo Mēbêngôkre, tais como o Instituto Kabu, Instituto Raoni e Associação Floresta Protegida. Essa parceria oferece inclusive equipamentos, veículos, suprimentos, combustível, manutenção de equipamentos, serviços de contabilidade e atividades educativas. Capacitam-se e financiam-se atividades de proteção territorial e vigilância.


Trata-se de uma iniciativa abrangente que visa proteger as terras, os direitos e a cultura do povo Mebêngôkre, na Amazônia. Desde sua criação, o projeto tem desempenhado um papel crucial na resistência contra as pressões externas, como a mineração ilegal, a extração de madeira e o avanço da agricultura em terras indígenas. O projeto também trabalha para garantir a soberania territorial dos Mēbêngôkre, permitindo que eles mantenham suas práticas tradicionais e protejam a biodiversidade de suas florestas.


O projeto é uma colaboração entre os próprios Mēbêngôkre e algumas de suas organizações de base representativas em parceria com o ICFC, universidades e governos, tanto no Brasil quanto internacionalmente. Ele se destaca por combinar conhecimento tradicional indígena com ciência moderna e estratégias de defesa ambiental, fortalecendo a autonomia das comunidades Kayapó e garantindo que suas vozes sejam ouvidas nas negociações sobre o futuro de suas terras.



Uma das abordagens centrais do Kayapó Project é a promoção de atividades sustentáveis que beneficiem diretamente as comunidades, como o ecoturismo, a coleta de castanha-do-brasil e a venda de artesanato. Essas atividades não apenas geram renda, mas também reforçam a conexão dos Mēbêngôkre com suas tradições e com a floresta, ao mesmo tempo em que educam visitantes e parceiros sobre a importância da preservação ambiental.


O "International Ecotourism and Exchange" é um exemplo claro de como o Kayapó Project busca criar pontes entre culturas diferentes, promovendo um entendimento mútuo e alianças duradouras. Através dessas iniciativas, o projeto não só protege o território Kayapó, mas também fortalece a identidade cultural e a autonomia das comunidades indígenas, garantindo que as futuras gerações possam continuar vivendo de acordo com seus valores e tradições.


::: Perspectivas Futuras :::


O "International Ecotourism and Exchange" continua a ser uma plataforma vital para o fortalecimento das relações interculturais e a construção de um futuro mais sustentável para os Mēbêngôkre e para a Amazônia. Através deste programa e do Kayapó Project, as comunidades indígenas compartilham sua sabedoria e cultura com o mundo, ao mesmo tempo em que reforçam a importância de proteger a floresta amazônica e os modos de vida que dependem dela.

Com a crescente demanda por turismo consciente e intercâmbios culturais genuínos, o programa promete continuar sendo um recurso valioso para as comunidades Mēbêngôkre e para aqueles que buscam uma compreensão mais profunda das complexidades da Amazônia e de seus guardiões indígenas.



Fotos de: Scott Hecker.