Mulheres Mẽbêngôkre na aldeia Tekrejarotire são capacitadas em costura, promovendo empoderamento feminino e autonomia econômica. O projeto, concebido por Tuire e realizado pela Associação Floresta Protegida, visa fortalecer habilidades tradicionais, criar oportunidades de renda e fortalecer a cultura. Com a estruturação de casas de costura e a produção de vestimentas, as mulheres Mẽbêngôkre estão escrevendo um novo capítulo na história de suas comunidades.
Foto de Beptemexti Kayapó - Coletivo Beture.
Na região de transição entre o cerrado e a Amazônia, conhecida como Arco do Desmatamento, reside um povo cuja trajetória ancestral se entrelaça com as vastas paisagens, onde árvores imponentes se erguem e rios serpenteiam como veias da terra. Esse povo são os Mẽbêngôkre, "o povo do buraco entre as àguas" cujas tradições e cultura resistem vibrantes às pressões da modernidade. No cerne dessa comunidade, as mulheres desempenham um papel central, não apenas como guardiãs das tradições, mas também como catalisadoras de mudanças sociais.
Na aldeia Tekrejarotire, localizada na Terra Indígena (TI) Las Casas, um movimento liderado por Tuire e outras mulheres Mẽbêngôkre está escrevendo um novo capítulo na história da autonomia feminina. O projeto "A costura como ferramenta de empoderamento e promoção da autonomia das mulheres indígenas Mẽbêngôkre" é uma expressão desse movimento, um marco histórico que não só celebra a força das mulheres, mas também representa um avanço significativo na luta pela igualdade de gênero e pelo fortalecimento das comunidades indígenas.
Este projeto, concebido a partir da reivindicação das mulheres de Tekrejarotire e outras aldeias associadas, é uma colaboração visionária entre a Associação Floresta Protegida, a Conservação Internacional (CI - Brasil) e a L'Oréal, através do Fundo L'Oréal para Mulheres. Lançado como parte do Edital L’Oréal para o Futuro: Apoio às mulheres em situação de vulnerabilidade, o projeto visa capacitar as mulheres Mẽbêngôkre na arte da costura, fornecendo-lhes as ferramentas e os recursos necessários para alcançar a independência econômica e promover o desenvolvimento sustentável em suas comunidades.
Foto de Beptemexti Kayapó - Coletivo Beture
::: Empoderamento através da Educação e da Produção ::::
Uma das pedras angulares deste projeto é a capacitação em costura oferecida às mulheres indígenas Mẽbêngôkre. Realizadas em diferentes aldeias, essas capacitações não apenas ensinam as técnicas de costura, mas também promovem a troca de conhecimentos e fortalecem os laços comunitários. Como destaca Simone de Andrade, consultora responsável pela capacitação, o engajamento e o empenho das mulheres são evidentes, refletindo o desejo genuíno de aprender e crescer.
Além da capacitação, o projeto também prevê a estruturação de casas de costura em 34 aldeias, proporcionando às mulheres um espaço dedicado à produção e ao aprendizado. Essas casas não são apenas locais de trabalho, mas também centros de empoderamento e organização comunitária, onde as mulheres podem se reunir, compartilhar experiências e fortalecer sua identidade cultural.
Foto de Beptemexti Kayapó
::: Promovendo a Autonomia Econômica e Cultural :::
A produção de vestimentas tradicionais e contemporâneas é outra faceta importante deste projeto. Com a aquisição de equipamentos, materiais e insumos, as mulheres têm a oportunidade de criar peças únicas que refletem sua cultura e sua criatividade. Essas vestimentas não apenas atendem às necessidades cotidianas das comunidades indígenas, mas também têm o potencial de gerar renda através da comercialização.
Além disso, o projeto busca valorizar e preservar a rica herança cultural do povo Mẽbêngôkre, promovendo a segurança alimentar e fortalecendo os laços com a terra e com os recursos naturais. Ao integrar práticas tradicionais de cultivo e preparo de alimentos às atividades do projeto, as mulheres estão reafirmando sua conexão com a terra e garantindo a sustentabilidade das gerações futuras.
Foto de Beptemexti Kayapó - Coletivo Beture.
::: Capacitação em Costura na Aldeia Tekrejarotire: Um Passo Rumo ao Empoderamento das Mulheres Indígenas Mẽbêngôkre :::
Na aldeia de Tekrejarotire, situada na Terra Indígena (TI) Las Casas, um evento marcante está moldando o futuro das mulheres Mẽbêngôkre. Entre os dias 25 e 29 de março, essa comunidade vibrante foi palco da tão esperada V Capacitação em Costura Kubẽ Kà Kayry, um momento de aprendizado, empoderamento e celebração da cultura indígena.
Organizada pela Associação Floresta Protegida em parceria com a Cooperativa Kayapó de Produtos da Floresta, CooBaY, esta capacitação representou um marco na jornada das mulheres Mẽbêngôkre em direção à independência econômica e ao fortalecimento comunitário. Lideradas por Tuire e outras mulheres guerreiras, as participantes mergulharam de cabeça na arte da costura, determinadas a dominar uma habilidade que não apenas lhes permitirá criar belas peças, mas também abrirá portas para oportunidades econômicas e crescimento pessoal.
Foto de Beptememexti Kayapó - Coletivo Beture.
Na organização da cozinha, um time de cozinheiras liderado por Ngrenhmôro Kayapó, Bekwynhbjêreti Kayapó, Panh-ô Kayapó, Ngrenhkre Kayapó e Myi Kayapó, sob a supervisão de Tewadja Kayapó, assumiu a responsabilidade de preparar as refeições. Elas adquiriram alimentos tradicionais, como milho, abóbora e beraryby, não apenas para enriquecer o cardápio, mas também como uma oportunidade de gerar renda para a comunidade, vendendo esses produtos em abundância durante a capacitação.
Foto de Beptemexti Kayapó - Coletivo Beture.
A coordenação das atividades, incluindo tradução e interlocução, foi conduzida por Nhakmakôro Kayapó, mais conhecida como Nhaktak, uma respeitada liderança feminina que representou as mulheres de seu povo com maestria, desempenhando um papel similar nas capacitações anteriores do Xingu. A supervisão da monitoria em costura foi confiada a Bekwynhko Re Kayapó, esposa do Cacique Paulo e experiente costureira da aldeia. Ela aprendeu suas habilidades com missionárias e pôde contribuir significativamente, inclusive confeccionando os últimos uniformes para o time de futebol feminino de sua comunidade.
Foto de Beptemexti Kayapó - Coletivo Beture.
Kajet Kayapó, Coordenador Indígena da Associação Floresta Protegida, desempenhou um papel fundamental na interlocução com a mídia durante o evento. Da aldeia Madjyre, Angropryti Kayapó, mais conhecido como Kopre, atuou como técnico, realizando a montagem e manutenção das máquinas de costura sob a orientação do técnico Valmir Manuel. Os serviços elétricos foram providenciados por Nilson Vicente de Salles, com o valioso apoio da equipe local do Dsei Kayapó, que garantiu a instalação de chuveiros no alojamento, proporcionando infraestrutura essencial para a estadia dos participantes com segurança e conforto.
A capacitação marca um importante passo não apenas na promoção das habilidades das mulheres Mẽbêngôkre na arte da costura, mas também na consolidação de parcerias estratégicas para impulsionar o desenvolvimento econômico sustentável das comunidades indígenas. Esta colaboração histórica possibilitou à Cooperativa Kayapó de Produtos da Floresta - CooBaY realizar sua primeira aquisição de bolsas e vestidos, incorporando esses produtos como parte de sua marca, Meprodjà, e ampliando assim seu portfólio com itens de alta qualidade, confeccionados com o conhecimento tradicional e a expertise das mulheres indígenas. Além disso, o cadastro das produtoras junto à CooBaY e à Rede Origens Brasil não apenas facilita o acesso a mercados éticos, mas também fortalece a visibilidade e o reconhecimento das mulheres Mẽbêngôkre como artesãs talentosas e empreendedoras comprometidas com a preservação da Amazônia e de suas culturas ancestrais. Essas iniciativas não apenas promovem a autonomia econômica das mulheres indígenas, mas também contribuem para a valorização de suas identidades e conhecimentos tradicionais, fortalecendo assim a resiliência das comunidades frente aos desafios contemporâneos.
Foto de Beptemexti Kayapó - Coletivo Beture.
Sob a orientação da consultora Simone de Andrade, cuja vasta experiência na área da costura trouxe um novo nível de expertise para a capacitação, as mulheres de Tekrejarotire mergulharam nas intricadas técnicas de corte, costura e acabamento. Apesar dos desafios iniciais, como a adaptação a máquinas eletrônicas e barreiras linguísticas, o entusiasmo e o comprometimento das participantes foram evidentes desde o primeiro dia.
A cozinha, comandada pelas habilidosas cozinheiras Ngrenhmôro Kayapó, Bekwynhbjêreti Kayapó, Panh-ô Kayapó, Ngrenhkre Kayapó e Myi Kayapó, sob a coordenação de Tewadja Kayapó, proporcionou uma experiência gastronômica única, repleta de alimentos tradicionais tais como abóbora, batata doce, milho e beraryby, enriquecendo o cardápio e gerando renda na comunidade.
Foto de Beptemexti Kayapó - Coletivo Beture.
Além do aprendizado prático, a capacitação também ofereceu um espaço para reflexão e intercâmbio cultural. Nhakmakôro Kayapó, mais conhecida como Nhaktak, desempenhou um papel fundamental na interlocução e na coordenação, garantindo que as vozes das mulheres fossem ouvidas e respeitadas em todos os momentos.
A cobertura midiática colaborativa realizada pelos cineastas indígenas Mẽbêngôkre do Coletivo Beture, em conjunto com a equipe da Forest Criações, uma agência de comunicação especializada em pautas socioambientais, garantiu que as histórias e conquistas das mulheres de Tekrejarotire fossem registradas e compartilhadas com o mundo.
No final da capacitação, 17 mulheres da Terra Indígena Las Casas e da Linha Seca da TI Kayapó saíram transformadas, não apenas com novas habilidades em costura, mas também com uma nova perspectiva sobre seu papel na comunidade e no mundo. Comprometidas em compartilhar o conhecimento adquirido com outras mulheres em suas aldeias, essas participantes representam o início de uma jornada emocionante rumo ao empoderamento e à autodeterminação.
Foto de Beptemexti Kayapó - Coletivo Beture.
Para Tekrejarotire e para todas as comunidades Mẽbêngôkre, esta capacitação marca apenas o começo de uma jornada rumo a um futuro de igualdade, oportunidade e orgulho cultural. À medida que as mulheres indígenas se unem, compartilham suas habilidades e fortalecem suas comunidades, elas estão lançando as bases para um mundo mais justo, inclusivo e sustentável. E é através de iniciativas como esta que o verdadeiro potencial das mulheres indígenas Mẽbêngôkre é finalmente revelado, iluminando o caminho para um futuro de esperança e possibilidade.
::: Um Futuro de Empoderamento e Sustentabilidade :::
À medida que o projeto "A costura como ferramenta de empoderamento e promoção da autonomia das mulheres indígenas Mẽbêngôkre" avança, fica claro que seu impacto vai muito além da produção de vestimentas. É um testemunho do poder da solidariedade, da resiliência e da determinação das mulheres indígenas em enfrentar os desafios e construir um futuro melhor para suas comunidades.
À medida que as capacitações se expandem e as casas de costura se multiplicam, as mulheres Mẽbêngôkre estão assumindo seu lugar como líderes e agentes de mudança em suas comunidades. E, à medida que suas vozes se tornam mais fortes e suas habilidades se aprimoram, elas estão inspirando não apenas suas próprias comunidades, mas também o mundo ao seu redor.
Este projeto é mais do que uma iniciativa de desenvolvimento; é um manifesto de resistência, um testemunho do poder transformador da educação, da cultura e da solidariedade. É uma celebração da força das mulheres indígenas, cujo legado continuará a inspirar gerações futuras a lutar por um mundo mais justo, igualitário e sustentável.
Foto de Beptemexti Kayapó - Coletivo Beture